quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Família na Idade Média


A Família na Idade Média

Texto de Luiza Zelesco Barreto - Historiadora

A família ocidental, na forma como nós a conhecemos, é, por assim dizer, uma “invenção” medieval. É claro que a família sempre existiu, mas ela aparece de formas muito diferentes de acordo com cada sociedade. Na antiga sociedade romana, uma sociedade marcada pelo individualismo, o homem é que contava; ele era o chefe da família, o proprietário de sua mulher e filhos, como se estes fossem um bem que lhe pertencia pessoalmente, e sobre os quais ele tinha poderes mais ou menos ilimitados. Sua mulher e seus filhos lhe eram inteiramente submissos e guardavam um estado de eterna menoridade. Enquanto estivesse vivo, até mesmo seus netos e bisnetos lhe deviam obediência direta, mais que a seus próprios pais.

A originalidade da Idade Média, neste contexto, é justamente a sua organização baseada na família, e em um novo modelo de família, fundado no modelo de casamento cristão. Ao compreender-se o matrimônio como um contrato a ser estabelecido entre o casal, dá-se voz também à mulher. A família se funda assim na união do homem e da mulher e nos filhos que naturalmente virão dessa união. É uma visão que toma por modelo inclusive a Sagrada Família, cuja devoção aumenta continuamente ao longo da Idade Média. Claro que os casamentos arranjados continuam a acontecer, mas valem quase sempre tanto para o homem quanto para a mulher, ou seja, os pais decidem o casamento dos filhos, em oposição ao modelo antigo, no qual o homem tomava para si uma mulher. A união não se estabelece mais, como na antiguidade romana, por uma concepção estatista da autoridade de seu chefe, mas por este novo fato de ordem tanto biológica quanto moral: todos os indivíduos que compõem uma mesma família são unidos pela carne e pelo sangue, seus interesses são solidários, e nada é mais respeitável que a afeição natural que os anima, uns pelos outros.

Todo relacionamento desta época é estabelecido sobre o modo familiar: os dos senhores com seus vassalos, os dos mestres com seus aprendizes, todos se fundamentam no estabelecimento de um contrato entre iguais. Senhores e mestres estão em posição superior apenas circunstancialmente; em essência, são todos iguais entre si. Isto se reforça ainda mais pelo fato de o vassalo de um determinado senhor poder ter seus próprios vassalos sendo, por sua vez, senhor dos mesmos. Todos, entretanto, fazem parte de uma mesma família, tanto em um sentido mais concreto – os aprendizes moram com os mestres e participam de sua vida familiar; vassalos com freqüência comem à mesa de seus senhores – quanto em um sentido mais abstrato, porém igualmente presente: são todos irmãos em Cristo, integrantes da grande família que é a Cristandade.

*Texto retirado do link http://www.negociosdefamilia.com.br/2010/02/familia-na-idade-media.html
Luana Q.-3668

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